Nota Pública do IAB-MG e SINARQ-MG Sobre as Últimas Enchentes em Belo Horizonte [/et_pb_text][et_pb_text admin_label=”Texto” background_layout=”light” text_orientation=”left”]
O Instituto de Arquitetos do Brasil – Depto. de Minas Gerais (IAB/MG) vem a público expressar sua preocupação em relação às enchentes ocorridas em Belo Horizonte e em todo Estado. Enormes transtornos foram causados pelas inundações desde a semana passada: na última sexta feira (24/01), por exemplo, a cidade de Raposos teve aproximadamente 45% da sua população desalojada.
Na terça feira (28/01) as chuvas novamente afetaram as cidades, em especial a região centro-sul de Belo Horizonte, com transbordamentos nos fundos de vale próximos às cabeceiras dos córregos situados na margem sul do Ribeirão Arrudas.
As consequências da chuva na região centro-sul de Belo Horizonte explicitam que a percepção de que enchentes e inundações são consequências da informalidade não procede. Elas (enchentes e inundações) de fato se remetem à ausência do cuidado com o planejamento ambiental urbano.
A chuva foi recorde das últimas décadas ou, ainda, a mais intensa dos últimos cem anos, segundo informações divulgadas. Esses eventos serão cada vez mais extremos e recorrentes devido às alterações climáticas. As respostas técnicas atuais e as que provavelmente serão feitas dentro dos mesmos moldes, aparentemente, não conseguirão contê-los ou mitigá-los.
Especialistas são sempre chamados nestas horas, mas, passados os momentos de pavor, reparados ou minimizados os estragos, desentupidos os canais e galerias, a população volta ao seu dia a dia. Dessa forma, os especialistas são esquecidos e suas reflexões e avisos engavetados até a próxima tragédia.
O desenho urbano associado a uma lógica antiga de implantação, a excessiva impermeabilização do solo, o adensamento construtivo, a eliminação de cobertura verde e matas ciliares associada à ocupação das planícies de inundação (muitas vezes nossos antigos campos de futebol de várzea), a ocupação descontrolada e impensada das encostas, o louvor ao tecnicismo (domínio da natureza pela ciência) e o urbanismo de infraestrutura retificando e canalizando cursos d’água formam uma sinfonia desafinada do que se tornou nosso habitat urbano.
Ao longo do século XX, percebe-se a tentativa da dominação das águas no intuito de alijá-la da paisagem urbana e reduzir a sua utilização tão somente como esgoto a céu aberto. Esse papel secundário imposto a um dos elementos primordiais das ocupações humanas tem mostrado consequências funestas.
Belo Horizonte, segundo dados da Secretaria Municipal de Meio Ambiente, tem aproximadamente 700 quilômetros de cursos d’água cadastrados no Plano Diretor de Drenagem Urbana (PDDU).
Desse número, 208 quilômetros estão canalizados ou revestidos, 113 quilômetros não estão canalizados e 350 quilômetros de cursos d’água estão em leito natural em áreas de preservação do município.
Vários estudos, planos e projetos considerados referência na área de tratamento de fundo de vale e drenagem urbana foram feitos em Belo Horizonte. O DRENURBS – programa municipal, hoje rebatizado Nascentes – preconizava o tratamento dos córregos não canalizados e suas margens como parques e áreas naturais de drenagem e detenção. Entretanto, somente 3 dos mais de 15 cursos d’água mapeados pelo programa resultaram em parques: Baleares, Nossa Senhora da Piedade e 1º de Maio. Urge resgatar esse programa de forma efetiva e ampliá-lo para todos os cursos d’água ainda não canalizados na região metropolitana.
É necessário que se repense o modelo de urbanização em relação à implantação de planos de revegetação e novas áreas verdes, drenagem natural, criação de parques lineares nas áreas dos cursos já canalizados e permeabilidade do solo.
Essas soluções, aparentemente caras, passam a ser viáveis frente às mortes, feridos, prejuízos e custos provocados pelas enchentes aterrorizantes vividas nos últimos dias.
Passada a fase de crise e socorro aos desabrigados e flagelados pelas enchentes, teremos a oportunidade única de criar um marco na história de Belo Horizonte e sua região metropolitana.
Se hoje é necessário um gabinete de administração da crise, na primeira hora seguinte ao atendimento humano faz-se necessário um gabinete permanente e integrado de planejamento e modificação da ocupação do solo como política urbana, considerando o planejamento ambiental indissociável a esse sistema.
É hora de especialistas, técnicos multidisciplinares, administrações públicas e sociedade se engajarem em um amplo debate para mudar o rumo do planejamento da capital. Recuperar a identidade hídrica metropolitana é extremamente importante, visto que a capital mineira serve de exemplo para as demais cidades do estado.
O IAB/MG conclama todas as entidades e conselhos na área ambiental e urbana para somarmos força e apresentarmos soluções à sociedade, munindo-a de ferramentas e argumentos para pressionar os administradores na direção correta das decisões.
O IAB/MG com sua sede em BH e seus núcleos (Itaúna, Leste, Juiz de Fora, Montes Claros, Poços de Caldas e Uberlândia) se dispõem a promover debates, seminários, a colaborar tecnicamente junto à administração pública e sociedade, na busca de soluções e esclarecimento dos impactos e da nossa responsabilidade com o futuro de Belo Horizonte e das outras cidades de Minas Gerais.
É hora de repensar e mudar com celeridade e responsabilidade. O tempo está esgotado.
[/et_pb_text][et_pb_text admin_label=”Texto” background_layout=”light” text_orientation=”left”] Belo Horizonte, 30 de Janeiro de 2020 [/et_pb_text][/et_pb_column][/et_pb_row][et_pb_row][et_pb_column type=”1_2″][et_pb_text admin_label=”Texto” background_layout=”light” text_orientation=”left”]Iracema G. Abreu Bhering
Presidente IAB-MG
Matheus Guerra Cotta Presidente SINARQ-MG [/et_pb_text][/et_pb_column][et_pb_column type=”1_2″][/et_pb_column][/et_pb_row][et_pb_row][et_pb_column type=”4_4″][et_pb_text admin_label=”Texto” background_layout=”light” text_orientation=”left”] CONFIRA NA INTEGRA AQUI [/et_pb_text][/et_pb_column][/et_pb_row][/et_pb_section]]]>