Paulo Mendes da Rocha: “Arquitetura não é para ser vista, é para ser vivida”
Vencedor do Prêmio Pritzker foi homenageado na II Conferência Nacional de Arquitetura e Urbanismo
09 de outubro de 2017
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Paulo Mendes da Rocha é o arquiteto brasileiro vivo com maior reconhecimento no mundo. Ganhador do Prêmio Pritzker em 2006, do Leão de Ouro da Bienal de Arquitetura de Veneza em 2016 e da Medalha de Ouro do Instituto Rea Britânico de Arquitetos (RIBA), ele é responsável por obras icônicas como o Pavilhão do Brasil em Osaka em 1970, o Museu Brasileiro de Escultura (Mube), a reforma da Pinacoteca de São Paulo, do Museu dos Coches em Portugal e, mais recentemente, do Sesc 24 de Maio na capital paulista. Porém, na sua palestra magna na II Conferência Nacional de Arquitetura e Urbanismo ele fez questão de ressaltar a importância das cidades, em vez de obras isoladas. “A cidade é o monumento supremo da Arquitetura. Arquitetura não é para ser vista, é para ser vivida”, afirmou.
Em frente a mais de 400 arquitetos e urbanistas e estudantes, celebrado como uma estrela da Arquitetura mundial, falou mais sobre projetos políticos do que de projetos de obras.
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Ressaltou a “extraordinária importância” do Congresso Mundial de Arquitetos de 2020, a ser realizado no Rio de Janeiro pela União Internacional de Arquitetos (UIA), que representa mais de 3 milhões de profissionais em todo o mundo.
Uma oportunidade, segundo ele, de estabelecer uma política solidária para mudar o rumo que as cidades contemporâneas estão tomando rumo a desastre. “A política é a questão fundamental, principalmente para nós americanos. Contrariar dogmas é a primeira questão de qualquer ação política”. O Congresso seria então a grande oportunidade para uma revisão crítica da política colonial que marcou a história das Américas, em defesa da Arquitetura como forma de conhecimento.
Nesse sentido, a Revolução Russa, que completa 100 anos em 2017, marca a grande transformação da história. O construtivismo soviético lançou a ideia de planejamento territorial. “Arquitetura não como forma isolada, mas como planejamento de todo o desenvolvimento do território”, na sua definição. Paulo Mendes da Rocha usou essas ideias para promover uma proposta grandiosa e ousada para o Brasil: unir as bacias hidrográficas do Araguaia-Tocantins e do Paraná, por meio de um sistema hidroviário que permitisse a navegação entre todos esses enormes rios, criando uma segunda costa no interior do país. “Nunca navegamos nossos rios e temos que torná-los navegáveis. Nada mais brilhante para contrariar a estupidez do tratado de Tordesilhas”, afirmou, referindo-se ao acordo feito no século XV entre Portugal e Espanha para dividir a América.
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SESC 24 DE MAIO
Paulo Mendes da Rocha também falou de sua mais recente criação: o Sesc 24 de Maio, em São Paulo, cuja maior ousadia está em colocar uma piscina no topo do edifício, inserindo um elemento inovador no horizonte de concreto da cidade. “O Sesc existe em inúmeras sedes, a grande virtude é essa, criar recantos onde o comerciário pode comer, ler, ver peças de teatro. O que não era de se esperar é que tivesse piscina no centro da cidade. A proposta foi minha, pensei que eles não iam topar, uma carga enorme lá em cima, custo alto.” Ele conta que, em parceria com o escritório MMBB Arquitetos, aproveitou o vazio interno do prédio, em forma de quadrado, para fazer em cada canto um novo pilar que vai do topo à fundação. “Pra mim tem uma graça particular: fazer uma piscina pros moleques office-boys, para que os executivos que batem teclas no computador vejam esses garotos espirrando água para todo lado”.
Considerado o maior representante da chamada Escola Paulista de Arquitetura, movimento liderado por Vilanova Artigas na segunda metade do século XX, Paulo Mendes da Rocha aproveitou a oportunidade para desmistificar alguns conceitos. Essa escola teria menos a ver com técnicas de construção do que com a forma de pensar do arquiteto. “É impossível ensinar Arquitetura, mas pode-se educar um arquiteto. A essência da escola paulista é essa, não tem a ver com concreto aparente, isso é frescura, é bobagem”. Aproveitou para desmistificar também as honrarias que vem recebendo em sequência nos últimos anos, elevando seu prestígio mundo afora. “É o inferno. É a pior coisa que pode acontecer na sua vida, não adianta coisa alguma. As entidades têm que dar prêmio todo ano, então eles procuram e acham alguém.”
Ao final da palestra, entretanto, ele não escapou de mais uma homenagem. O presidente do CAU/BR, Haroldo Pinheiro, entregou-lhe uma placa metálica em reconhecimento à sua obra e sua força para inspirar diferentes gerações de arquitetos. “Como arquiteto, como professor, como ator importante nas nossas organizações, você é uma referência da nossa profissão e um dos responsáveis pela criação de nosso conselho. Esta placa é apenas um breve registro do respeito, amizade, carinho e admiração que temos por você”, afirmou Haroldo. A enorme fila de pessoas que se formou atrás de Paulo, seguindo-o na saída da Conferência Nacional de Arquitetura e Urbanista, para tirar fotos ou falar com ele, não deixou dúvidas quanto ao tamanho desse sentimento.
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Fonte: CAU/BR
Publicado em: 09 de outubro de 2017
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